TERESA JOAQUIMNatalidade como (possibilidade de) transmissão de um mundo comum ou a ética do/a que passaCiclo Imagens de Pensamento

Curadoria de Susana Camanho & Emídio Agra

Pensamento, Fora de Portas
Sáb, 14 Out 2023
15:30 – 17:00

@ Casa das Artes
Rua Ruben A, 210. Porto
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Entrada livre

(Fotografia: Bárbara Fonte, 2015)

 

Partindo da afirmação de que “somos sobreviventes”, como construir um mundo comum? A partir de quê? De quem? A partir da junção de encontros diversos e da noção de lixo elaborada em simultâneo pelo gesto de “pôr de parte” (Michel de Certeau) e de respigar (Agnès Varda). Esse gesto é acompanhado pela ideia de personagem conceptual (Deleuze e Guattari) que permite pensar uma comunidade infigurável (Rancière). Nesse sentido, utilizamos como exemplo o fio de compreensão que a noção de natalidade de Hannah Arendt permitiu (ou transmitiu) a Françoise Collin a possibilidade de repensar a criação de um mundo comum marcado pela vulnerabilidade não só do ponto de vista teórico como numa praxis feminista na sua pluralidade de modo a tornar esse mundo, na expressão de Virginia Woolf, “um lugar que seja seu” (a room of one’s own) ou antes nosso.

 

Teresa Joaquim é doutorada em Antropologia Social pelo I.S.C.T.E. e Professora Associada com Agregação da Universidade Aberta. É coordenadora do Mestrado de Estudos sobre as Mulheres: Género, Cidadania e Desenvolvimento. É membro do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI) e ex-coordenadora do Grupo de Investigação em Estudos sobre as Mulheres, Género, Sociedade e Culturas. Foi membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (1996- 2001). Publicou, entre outras: Menina e Moça, Construção Social da Feminilidade séculos XVII-XIX (1997); As causas das Mulheres. A comunidade infigurável (2004); Cuidar dos outros, cuidar de si – questões em torno da maternidade (2006); Masculinidades/Feminilidades (org.) (2010).

Imagens de pensamento

“Imagens de pensamento” dá título a este ciclo de conferências que abre um espaço na programação do Sismógrafo para pensar as imagens e através das imagens. Pretende-se com estas conferências unir o discursivo e a imagem, confrontá-los, reconhecer o potencial de uma imagem, de um fragmento, resgatando experiências vitais ameaçadas num presente incerto. Estes tempos da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”, turbulentos e inquietantes, tempos de pandemias, de crises ecológicas, financeiras, políticas e sociais, são “tempos interessantes”, para usar a expressão popularizada por Eric Hobsbawm. Tempos interessantes especialmente para o pensamento. Pensar é já contribuir para uma mudança. Este ciclo reivindica uma cooperação entre a força expressiva da arte e a precisão da filosofia. Sem uma linguagem que as acolha, as imagens podem cegar-nos ou nada dizer. Com estas conferências, o Sismógrafo procura cuidar o que Alexander Kluge chama um “jardim de cooperação”, um lugar que preserva os momentos em que a palavra e a imagem convergem de forma a produzirem algo novo, um espaço para a discrepância e a cooperação face às cacofonias da informação, face à manipulação industrial e escravização dos sentimentos. Em tempos difíceis, de cisões e segregações, a cooperação apresenta-se como um antídoto do tribalismo (Richard Sennett). Para abrir na cidade este jardim, este espaço de debate e polifonia, o Sismógrafo convidou oradores ligados à filosofia, à estética, à crítica de arte, às artes plásticas e ao cinema que, em diferentes momentos e desde diferentes perspectivas, procurarão apresentar um diagnóstico do presente.