ELENA LAURENZIA subversão do ícone. Figurações do feminino em María Zambrano

Pensamento, Fora de Portas
Qui, 13 Out 2022
19:00 – 20:00

Conferência
Ciclo Imagens de Pensamento

Quinta-feira 13 Outubro 2022 19:00
@ Casa das Artes
Rua Ruben A, 210. Porto
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Entrada livre

“Ao contrário das suas contemporâneas, as grandes pensadoras pioneiras de inícios do século XX, María Zambrano não parece disposta a colocar entre parêntesis a sua condição de mulher quando pensa ou escreve. A sua proposta surge claramente da decisão de enfrentar a tradição filosófica que a exclui e de a interpelar a partir de uma posição marginal – ou melhor, excêntrica – na fronteira entre pertença e estranheza. Na sua obra, a diferença sexual não aparece como uma parcialidade ou uma limitação, mas como uma heterogeneidade: o lugar de um conhecimento situado a partir do qual lhe é possível desenvolver uma proposta filosófica capaz de falar a homens e a mulheres. Uma parte relevante desta proposta está ligada a figuras e figurações femininas como Antígona, Heloísa de Argenteuil, Diótima ou Nina, a protagonista do romance Misericórdia de Benito Pérez Galdós. Ao reabilitar estas mulheres no campo da filosofia, Zambrano não se limita a iluminar a sua voz, obra ou façanhas, mas submete a sua representação a uma torção simbólica, oferecendo uma visão destas figuras que diverge da imagem icónica transmitida pela cultura hegemónica.” Elena Laurenzi

Elena Laurenzi é professora na Università del Salento (Itália) e na Universidade de Barcelona. Forma parte do ADHUC-Centre de Investigación Teoría, Género y Sexualidad, do GRC “Creación y pensamiento de las mujeres” e é coordenadora de investigação do Seminario Filosofia y Género. Dedica-se à teoria feminista e ao estudo das pensadoras do século XX. Publicou ensaios sobre María Zambrano, Simone Weil, Iris Murdoch e Françoise Collin. Editou e traduziu para italiano diversas obras de Zambrano, entre as quais a obra inédita Dante espejo humano e o epistolário com Elena Croce A presto, dunque, e a sempre (2015, obra vencedora do prémio Victoria Aganoor Pompilij). Entre as suas publicações destacam-se as monografias: María Zambrano, nacer por sí misma. Ensayos sobre Antígona, Eloisa, Diótima (1995), Sotto il segno dell’aurora. Studi su María Zambrano e Friedrich Nietzsche (2012) e Il paradosso della libertà. Una lettura politica di María Zambrano (Mimesis 2018). Editou, com À. Lorena Fuster, o número monográfico da revista Daimon “Contra la aridez. La propuesta filosófica de Iris Murdoch” (2013) e, com Marisa Forcina, uma dupla monografia na revista Segni e comprensione: “Reti filosofiche femminili. Ripensare la politica e la tradizione” (2015-2016). Ultimamente, as suas investigações têm-se centrado no activismo feminino dos inícios do século XX. Nesta linha, publicou Fili della trasmissione. Il progetto delle donne de Viti de Marco-Starace nel Salento del 900 (Grifo 2018), que expõe um caso de estudo dedicado a três gerações de mulheres do sul de Itália e editou, com Manuela Mosca, o volume colectivo A Female Activist Elite in Italy (1890-1920). Its International Network and Legacy (Palgrave 2021).

Ciclo Imagens de Pensamento

“Imagens de pensamento” dá título a este ciclo de conferências que abre um espaço na programação do Sismógrafo para pensar as imagens e através das imagens. Pretende-se com estas conferências unir o discursivo e a imagem, confrontá-los, reconhecer o potencial de uma imagem, de um fragmento, resgatando experiências vitais ameaçadas num presente incerto. Estes tempos da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”, turbulentos e inquietantes, tempos de pandemias, de crises ecológicas, financeiras, políticas e sociais, são “tempos interessantes”, para usar a expressão popularizada por Eric Hobsbawm. Tempos interessantes especialmente para o pensamento. Pensar é já contribuir para uma mudança. Este ciclo reivindica uma cooperação entre a força expressiva da arte e a precisão da filosofia. Sem uma linguagem que as acolha, as imagens podem cegar-nos ou nada dizer. Com estas conferências, o Sismógrafo procura cuidar o que Alexander Kluge chama um “jardim de cooperação”, um lugar que preserva os momentos em que a palavra e a imagem convergem de forma a produzirem algo novo, um espaço para a discrepância e a cooperação face às cacofonias da informação, face à manipulação industrial e escravização dos sentimentos. Em tempos difíceis, de cisões e segregações, a cooperação apresenta-se como um antídoto do tribalismo (Richard Sennett). Para abrir na cidade este jardim, este espaço de debate e polifonia, o Sismógrafo convidou oradores ligados à filosofia, à estética, à crítica de arte, às artes plásticas e ao cinema que, em diferentes momentos e desde diferentes perspectivas, procurarão apresentar um diagnóstico do presente.

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