STEFANIA FANTAUZZIO vento do pensamento...

Pensamento, Fora de Portas
Qui, 23 Jul 2020
19:00 – 20:30

Quinta-feira, 23 Julho 2020, 19h

Jardim da Casa das Artes
Rua Ruben A 210
4150-639 Porto

"Na reflexão de Hannah Arendt podemos encontrar um fio condutor: a procura constante dum lugar onde e a partir de onde pensar, acompanhada da consciência de que a totalidade da experiência só se realiza quando desde este lugar nos dirigimos aos outros, quando desde a própria e imprescindível individualidade nos dirigimos a um espaço comum no qual se tecem relações, se recuperam vínculos, se descobrem novas afinidades. Trata-se, assim, duma procura voltada ao mesmo tempo para o indivíduo e para o mundo, acompanhada pela determinação de narrar experiências e exercícios de pensamento que se contrapõem à submissão do indivíduo ao curso da história e às ideias dirigidas apenas à elaboração sistemática.
A minha intervenção tem como objectivo explicar a modalidade desta procura, tentando responder à famosa pergunta formulada por Arendt em The Life of the Mind: Onde estamos quando pensamos? Por um lado, veremos o papel das imagens do pensamento e da linguagem poética e, por outro, teremos em conta a importância destas mesmas imagens na experiência de Arendt. Assim, veremos como estas imagens permitem a abertura ao mundo e à pergunta “onde estamos quando pensamos” podemos responder: estamos no mundo, sentados à volta de uma mesa, a pensar sem corrimão fora dos oásis que nos defendem dos desertos dos nossos tempos, encarando as tempestades de areia, a fragilidade e vulnerabilidade da condição humana." Stefania Fantauzzi

Stefania Fantauzzi é filósofa e investigadora do seminário “Filosofía y Género” da Universidade de Barcelona desde 2002 e do grupo “GAPP- Grupo Arendtiano de Pensamiento y Política”, desde a sua fundação. É licenciada em Filosofia pela Universidade de Bolonha e doutorada em Filosofia pela Universidade de Barcelona. Após terminar o doutoramento, fez investigação no Hannah Arendt Zentrum em Oldenburg, aprofundando o seu conhecimento sobre o papel da violência no pensamento de Arendt, autora à qual se tem dedicado e sobre a qual tem vindo a publicar artigos e ensaios, destacando-se: “Pensar el mundo y actuar en el mundo. Del mal radical a la banalidade del mal en el pensamiento de Hannah Arendt”, “La relación entre guerra y política en Hannah Arendt”, “Sobre la guerra y la violencia en el discurso femenino”, "Taking Responsibility for the World: Politics, the Impolitical, and Violence in Hannah Arendt", "The Transmission of the Revolutionary Spirit: Reflections on Civil Disobedience in Hannah Arendt" e "Violencia y revolución en la filosofía de Hannah Arendt. Reflexiones críticas”. É editora do volume Participar del món (Editora Lleonard Muntaner, 2020), que apresenta os escritos de Arendt publicados na revista Aufbau nos anos 30 e 40 do séc. XX. Conjuga a sua investigação com a tradução, traduzindo, entre outras, as obras Come fare cose com i ricordi (2009) e I brutti scherzi del passato (2010), ambas de Manuel Cruz.

Imagens de pensamento

“Imagens de pensamento” dá título a este ciclo de conferências que abre um espaço na programação do Sismógrafo para pensar as imagens e através das imagens. Pretende-se com estas conferências unir o discursivo e a imagem, confrontá-los, reconhecer o potencial de uma imagem, de um fragmento, resgatando experiências vitais ameaçadas num presente incerto. Estes tempos da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”, turbulentos e inquietantes, tempos de pandemias, de crises ecológicas, financeiras, políticas e sociais, são “tempos interessantes”, para usar a expressão popularizada por Eric Hobsbawm. Tempos interessantes especialmente para o pensamento. Pensar é já contribuir para uma mudança. Este ciclo reivindica uma cooperação entre a força expressiva da arte e a precisão da filosofia. Sem uma linguagem que as acolha, as imagens podem cegar-nos ou nada dizer. Com estas conferências, o Sismógrafo procura cuidar o que Alexander Kluge chama um “jardim de cooperação”, um lugar que preserva os momentos em que a palavra e a imagem convergem de forma a produzirem algo novo, um espaço para a discrepância e a cooperação face às cacofonias da informação, face à manipulação industrial e escravização dos sentimentos. Em tempos difíceis, de cisões e segregações, a cooperação apresenta-se como um antídoto do tribalismo (Richard Sennett). Para abrir na cidade este jardim, este espaço de debate e polifonia, o Sismógrafo convidou oradores ligados à filosofia, à estética, à crítica de arte, às artes plásticas e ao cinema que, em diferentes momentos e desde diferentes perspectivas, procurarão apresentar um diagnóstico do presente.

Folha de sala

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