FLORIAN AUERDesejo-te amor sem dor

Exposição
3 Jun – 2 Jul 2016

Inauguração
Sexta-feira, 3 Junho 22:00

Entrada gratuita

Ao fundo do bar ouvia-se um assobio. O jogo tinha terminado e ali celebrávamos mais uma vitória. Cerveja, vinho tinto, brandy, aguardente: cada um escolhia a sua bebida favorita. Era necessário prolongar a euforia, enquanto, no plasma, passava “Machete”, cujas cenas eram vislumbradas nos momentos em que o silêncio tomava conta da mesa. Aqui é possível fumar, outro combustível para as histórias relatadas ao ritmo próprio da nossa amizade. Também se faziam consultas à rede para confirmar uma hipótese. É verdade que a Irina já não namora com o Bradley Cooper? A dúvida e o desapontamento sucederam-se quase instantaneamente: ainda estão juntos, alguém disse.
De Berlim, chegava mais um amigo e logo partimos para um outro poiso. Havia que começar tudo de novo. Ouvir as novidades. As transferências: Renato Sanches no Bayern, Mourinho no United, Espírito Santo no Porto. Apanhámos um táxi, pois agora só se podia beber um copo numa das espeluncas que continuavam abertas pela noite dentro, mas isso pouco importava, pois sentíamo-nos um bando de irmãos e cada trago aprofundava a comunhão entre nós. Unia-nos a revolta contra Alexander Gauland, do AfD, que, a propósito da nova campanha publicitária dos chocolates Kinder, disse: “As pessoas gostam dele enquanto jogador, mas não querem ter Boateng como vizinho.”
Enfim, a final entre o Real e o Atlético foi uma boa merda: ninguém merecia vencer. Nem sequer Ronaldo, essa invenção da Nike: “Tive uma visão, vi que ia marcar o pénalti da vitória e foi por isso que pedi a Zidane que me colocasse em quinto na lista”. Há uma dimensão hiper-real no ex-namorado da Irina, a qual, como revelou o Ancelotti, era trocada por banhos de gelo, às três da manhã, no centro de treinos. É uma espécie de autómato, de figura de jogo de computador, este madeirense, que aos 16 anos, na sua primeira entrevista, dizia: “Para ser sincero ainda não me sinto realizado. Fico feliz por estar entre os primeiros na tabela dos melhores marcadores da equipa mas ainda quero marcar muitos golos.” 
Sobre as nossas cabeças pairava a imagem de Madjer, 1987, esse golo mágico, de calcanhar. E também a derrota, por 6 a 1, em Munique, quando começou o descalabro da equipa, que, passado mais de um ano ainda não se pôs de pé. O Bayern era melhor com Heynckes, mais prático, do que com Guardiola, que quer atingir o jogo perfeito: uma impossibilidade prática. Os três títulos consecutivos deste último não chegam à Liga dos Campeões conquistada por Jupp. Não bastou ao catalão “jogar bem” e  “ganhar sempre”. Faltou-lhe a inteligência táctica de uma equipa onde todos têm vontade de correr e de “lutarem uns pelos outros”. 

Em certas alturas do dia existimos apenas nós. Uns com os outros. Copo após copo partilhamos o sensível. Não há dúvida: um dia sonhámos ser jogadores de futebol. Imitar o Kempes, o "fenômeno", o Ballack ou o Duda. Hoje, à volta de uma mesa, revemos esse instante no qual Ronaldo executa um livre directo. O modo como ele prepara o pontapé. O movimento do corpo antes da bola partir. O desenho da trajectória. Uma obra de arte. 


Florian Auer (Augsburg, Alemanha, 1984) vive e trabalha em Berlim. Terminou os seus estudos em escultura, com o Prof. Tobias Rehberger, na Städelschule Frankfurt em 2012. Exposições individuais recentes incluem “You’re live (Physical States)”, no Albertinum, Dresden, Alemanha e “You're Live”, na Kunstverein Braunschweig, Alemanha. O seu trabalho foi recentemente incluído na exposição de novas aquisições da Pinakothek der Moderne, em Munique (2015). Em 2014 e 2012, Auer realizou exposições individuais com a galeria Kraupa-Tuskany Zeidler, em Berlim. Outras apresentações a solo incluem “Urgently “Yesterday””, no Mottahedan Projects, no Dubai (2014), “Casino noir” no S.M.A.K., em Gante, Bélgica (2013), “Believe in Better”, no NAK Neuer Aachener Kunstverein, em Aachen, Alemanha (2013) e “Babies Are Born At Night”, no Cell Project Space, em Londres (2013). O seu trabalho foi ainda mostrado internacionalmente em várias exposições colectivas.


D.T.
 

Exposição
3 Jun – 2 Jul 2016

Inauguração
Sexta-feira, 3 Junho 22:00

Entrada gratuita