CARLOS AZEREDO MESQUITAThe Complete National Anthems of the World

Em The Complete National Anthems of the World explora-se a natureza banal e universal do nacionalismo moderno e o que define a ideia de “nós”, tendo como ponto de partida os hinos nacionais. Pretende-se refletir sobre a construção da mitologia da nação e as dinâmicas de inclusão e exclusão associadas ao processo de criação de uma identidade nacional coletiva no contexto do mundo contemporâneo em que o estado-nação é omnipresente e naturalizado. É um projeto que se desdobra em duas componentes – uma performance e uma publicação.

Durante a performance – que dura cerca de dez horas, divididas por dois dias, sendo que o público pode entrar e sair livremente – ouviremos quase 300 hinos, tanto os hinos nacionais de todos os estados reconhecidos pelas Nações Unidas, como de estados não reconhecidos, movimentos independentistas, regiões autónomas, algumas províncias e organizações internacionais. 

The Complete National Anthems of the World é interpretada por quatro músicos com prática de banda filarmónica de rua, que marcham ininterruptamente criando coreografias no espaço do Sismógrafo. Os músicos improvisam sons que acompanham gravações acapella dos hinos, muitas delas amadoras, feitas em protestos, eventos desportivos ou celebrações. As canções são legendadas em tempo real, na língua original e em inglês.

A performance é acompanhada por um libretto com informações e contexto sobre o projecto e sobre cada hino. Nele também se explica a ordem pela qual os hinos são tocados, dado estarem organizados por grupos temáticos: hinos compostos por mulheres (são só quatro), por colonizadores ocidentais, copiados de outro país, cantados apenas numa língua colonial, inspirados em óperas europeias, etc.

A acompanhar a peça, e para uma leitura em paralelo, estão disponíveis entrevistas a várias pessoas de diferentes contextos, nacionalidades e profissões sobre a sua relação, vivências e experiências com hinos: políticos, diplomatas, exilados, activistas, desportistas profissionais, entre outros, a que se somam textos de reflexão mais abrangente. Estes materiais estão ainda em desenvolvimento – é nessa forma que irão ser mostrados neste momento – e mais tarde irão resultar num livro, a editar pelo Sismógrafo em 2024.

Ao longo da performance haverá comes e bebes grátis para o público. Por cada 20 minutos que assista à performance, cada visitante pode tirar uma oferta à sorte de dentro de uma tômbola em que estão todos os hinos que são tocados: as ofertas reflectem a situação política do território onde é usado o hino que saiu e, portanto, vão da água, vinho de bag-in-box, e pão simples, ao queijo da Serra com marmelada, vinho do Porto vintage, até à sapateira.

Carlos Azeredo Mesquita (1988, Porto) é artista visual e criador de performance. A sua primeira peça de performance, Diet Plan for the Western Man, estreou no KW Berlin, como parte da Bienal de Berlim de 2018, e com apresentação no Teatro Municipal do Porto. Com Luísa Saraiva co-criou I know it when I see it, em 2019, com estreia no Festival Circular, em Vila do Conde, e apresentações em Essen, na Alemanha. A sua seguinte criação, Über Alles, estreou em 2021 no MAAT, em Lisboa, como parte da BoCA, e no Teatro Municipal do Porto. Como artista visual, recebeu o Prémio BES Revelação e o Prémio Startpoint (Chéquia). Foi artista em residência na Trienal de Arquitectura de Lisboa '13 e na Galeria Panal 361, em Buenos Aires. O seu trabalho tendo vindo a ser exposto, tanto integrado em exposições colectivas como individuais, em locais como o Museu de Serralves, e a Galeria Municipal do Porto, o MAAT em Lisboa, como parte da "PhotoIreland" em Dublin, na Untitled Gallery @ Marwen em Chicago, na Vitrine Gallery em Weimar, e na Faur Zsófi Gallery em Budapeste. É formado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) e estudou fotografia na MOME Moholy-Nagy University of Art and Design em Budapeste.