À. LORENA FUSTERPor outra imagem de pensamento

(Fotografia: Hernâni Reis Baptista, ÁGUA VIVA (pormenor), 2022)

Retomando o fio condutor das imagens de pensamento que tem vindo a conduzir este projecto, rastrearemos alguns dos vestígios que encontramos na filosofia, na literatura e na arte sobre o próprio exercício do pensamento. Examinaremos fragmentos de pensamento contidos nos vasos de Beócia, nas epopeias, nos diálogos e ensaios filosóficos, bem como nos ícones medievais, nos retratos e esculturas modernos e contemporâneos para explorar imaginativamente alguns materiais que contribuem para criar uma imagem do pensamento à altura do nosso presente.

À. Lorena Fuster é Professora Associada do Departamento de Filosofia da Universidade de Barcelona. A sua investigação centra-se no tema da imaginação e dos imaginários no pensamento contemporâneo, em particular através de autoras como Hannah Arendt, Simone Weil, Iris Murdoch, Ágnes Heller, Luce Irigaray e Judith Butler. Actualmente, é Investigadora Principal de dois projectos sobre a relação entre o activismo feminino e a filosofia entre os séculos XIX e XX (MUVAN e El legado olvidado de Clotilde Cerdà/Esmeralda Cervantes). Foi investigadora em projectos nacionais (VULFIL, TRAFILÓ, Filósofas do século XX, SGR Criação e Pensamento das Mulheres, entre outros) e europeus (TRAMOD, HERA), nos quais abordou questões relacionadas com a transmissão, o reconhecimento, a dívida e a vulnerabilidade e a relação entre activismo e filosofia, temas sobre os quais publicou numerosos artigos em revistas e livros. Explorou a criação e a transmissão do pensamento através de diferentes formatos. Coordena o Ciclo Internacional de Conferências Primaveras Arendtianas. É directora do Seminário Filosofia e Género / ADHUC - Centro de Investigação Teoria, Género, Sexualidade e foi co-diretora do Festival de Filosofia Barcelona Pensa de 2020 até este ano.

Imagens de Pensamento

Imagens de pensamento dá título a este ciclo de conferências que abre um espaço na programação do Sismógrafo para pensar as imagens e através das imagens. Pretende-se com estas conferências unir o discursivo e a imagem, confrontá-los, reconhecer o potencial de uma imagem, de um fragmento, resgatando experiências vitais ameaçadas num presente incerto. Estes tempos da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”, turbulentos e inquietantes, tempos de pandemias, de crises ecológicas, financeiras, políticas e sociais, são “tempos interessantes”, para usar a expressão popularizada por Eric Hobsbawm. Tempos interessantes especialmente para o pensamento. Pensar é já contribuir para uma mudança. Este ciclo reivindica uma cooperação entre a força expressiva da arte e a precisão da filosofia. Sem uma linguagem que as acolha, as imagens podem cegar-nos ou nada dizer. Com estas conferências, o Sismógrafo procura cuidar o que Alexander Kluge chama um “jardim de cooperação”, um lugar que preserva os momentos em que a palavra e a imagem convergem de forma a produzirem algo novo, um espaço para a discrepância e a cooperação face às cacofonias da informação, face à manipulação industrial e escravização dos sentimentos. Em tempos difíceis, de cisões e segregações, a cooperação apresenta-se como um antídoto do tribalismo (Richard Sennett). Para abrir na cidade este jardim, este espaço de debate e polifonia, o Sismógrafo convidou oradores ligados à filosofia, à estética, à crítica de arte, às artes plásticas e ao cinema que, em diferentes momentos e desde diferentes perspectivas, procurarão apresentar um diagnóstico do presente.