VERA MOTASensação fantasma

Exposição
25 Mar – 29 Abr 2023

Visita guiada e conversa com a artista
29 Abr
16:00
Entrada gratuita

A sensação fantasma pode resultar de erros que ocorrem no processo de remapeamento no córtex, após a perda de uma parte do corpo. Nesta reorganização da imagem do corpo, pode ocorrer, por exemplo, a invasão do território representativo da face sobre o território da mão, levando a crer que é a parte ausente que se faz sentir.

A alteração a que assistimos nos nossos corpos — mesmo sem que tenha lugar a perda de um qualquer membro ou órgão — parece, no entanto, ser outra. Não se trata de sentir uma parte que não está lá, mas de não sentir um todo que está. Vemo-nos consumidos por uma dormência, conduzidos lentamente de um estado anestésico à perda de sentido dos limites físicos do corpo ou erosão da distinção entre a sua e outras matérias. Esta sensação fantasma deixa de ser localizada, assumindo um efeito generalizado. 

Enquanto se fala de materiais sencientes, de matérias e objectos com agência própria, o corpo biológico que transportamos perde ele mesmo materialidade. Deixa de se perceber a si próprio na sua existência material e de estabelecer com outros relações de substância. Do mesmo modo que virtualiza as suas relações e comunicações, virtualiza os seus membros, os seus órgãos, ou pelo menos a percepção que deles tem. Engolido por um sistema capitalista que determina e estabelece parâmetros para todos os aspectos da sua existência — desde aquilo que consome até aos desejos e aspectos mais íntimos — este corpo dormente atravessa uma crescente abstractização das suas formas, funções ou expressões. Alienado da sua corporeidade, percebe-se de modo desfigurado, disforme. 

Em Sensação Fantasma, Vera Mota apresenta-nos um conjunto de esculturas que nos conduzem a um imaginário do orgânico, do biológico, reminiscências ou resíduos da botânica ou zoologia, da observação microscópica de células ou de formações geológicas que se revelam na paisagem.Organizadas simetricamente ao longo de um eixo, assumem o carácter de distintos estádios evolutivos ou germinativos, em que cada elemento fixa o que parece ser apenas um momento de uma transformação contínua.

Estes objectos surgem aqui na matéria asséptica, fria e transparente do vidro acrílico e do aço. Estéreis, permanentes e estanques, estas formas espelhadas arquitectam no seu conjunto uma estrutura que podemos assemelhar a uma coluna vertebral, a ossaturas que, aqui depositadas, esperam que as sombras dos corpos que as visitam as intersectem, se misturem e interfiram com as suas transparências cristalinas.

 

Vera Mota (Porto, 1982) é licenciada em Artes Plásticas – Escultura (2000-2005) e Mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas (2006-2008), pela Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto. A sua prática artística revela-se sobretudo através da escultura, desenho e performance, usufruindo da amplitude e permeabilidade que estas disciplinas oferecem. Com apresentações públicas regulares desde 2005, o seu trabalho convoca uma forte componente material, num processo em que o seu corpo se afirma como agente quase sempre indispensável. A performance surge assim como meio de produção, de composição, ou mesmo de encenação, promovendo e equacionando a participação do corpo enquanto metodologia generativa e eixo para formulações conceptuais. Recentemente, mantendo-se em torno das políticas do corpo, o seu trabalho apresenta um animismo escultórico que reclama outras perspetivas de corpo, outros corpos e materialidades, procurando encenar processos de transfiguração, desclassificação de funções e transferência entre corpos orgânicos e inorgânicos, geológicos e biológicos, de que é exemplo a sua mais recente exposição individual “SEM CORPO/ DISEMBODIED” (Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto). No âmbito de exposições e programas de performance, o seu trabalho foi ainda apresentado na Galeria Municipal do Porto; MACE – Museu de Arte Contemporânea de Elvas; Matadero (Madrid, Espanha); Ireland’s Biennial (Limerick, Irlanda) e SESC (São Paulo, Brasil), entre outros.

Folha de sala

Exposição
25 Mar – 29 Abr 2023

Visita guiada e conversa com a artista
29 Abr
16:00
Entrada gratuita