ORNAMENTO E (É) CRIMECom Ruben Santiago

O artista Ruben Santiago propõe-nos pensar as relações entre arte e ornamento; relações ancestrais e, ao mesmo tempo, perseverantes na contemporaneadade. As práticas que evitaram o decorativo, consciente e voluntariamente, foram sendo progressivamente assimiladas pelo sistema da arte. A relevância alcançada por algumas dessas operações estéticas, de intenção originalmente emancipadora, acabou por gerar uma superabundância de abordagens formalistas. O minimalismo serviu de base para a consolidação de um ornamento mudo e global, de caráter neoliberal, que habita centros comerciais, anúncios, ecrãs, montras, e encontra terreno fértil na estética corporativa. Saímos da ESAP, e vamos rua abaixo, ao encontro do infinito repositório de manifestações gráficas nesta localidade. O que nos dirá a fachada do contestado STOP? Com canetas finas e papel vegetal, rastreamos e preservamos os vestígios culturais de ornamentos ‘vândalos’; das marcas sociais e políticas que se insurgem contra o aparentemente limpo.

O trabalho de Ruben Santiago (Sarria, Galiza, 1974) examina criticamente os mecanismos através dos quais a memória colectiva é formada e reflexiona sobre como as instituições regulam a concessão de valor simbólico. Abraçando estrategicamente processos a longo prazo e metodologias contínuas, Ruben concretiza a sua prática como experiência expandida que permeia cada aspeto da sua vida quotidiana. As apresentações públicas do seu trabalho tornam-se instrumentos de negociação através dos quais procura contestar e analisar definições do real. Ruben Santiago cria instalações, projetos site-specific, mecanismos online, trabalhos em vídeo, objectos, publicações e outros artefactos culturais. A sua obra e a sua abordagem dos processos de geração de sentido constituem um dos percursos mais singulares e significativos da sua geração. Expõe o seu trabalho em instituições internacionais, galerias e espaços independentes, desde os finais da década de 1990.