VITOR SILVA TAVARESObra Escrita 1, João César Monteiro

Pensamento
Sex, 16 Jan 2015
21:30

Entrada gratuita
Lotação limitada

Em colaboração com Livraria Utopia e Editora Letra Livre

Em 1974, no prefácio a “Morituri te salutant”, essa sentença latina que se pode traduzir por “os que vão morrer saúdam-te”, Vitor Silva Tavares escreve: “Não será pois de todo descabido ver-se nas palavras do César como que um teatro, assumidamente literário, do que no cinema dele já há.” Desse modo pode afirma-se que o cinema de João César Monteiro* é a continuação dos seus escritos por outros meios. E vice-versa. Há uma clara complementaridade entre ambas as áreas criativas usadas por este autor, que já em 1959 publicava a suas expensas o pequeno livro de poemas “corpo submerso”, o qual tem intróito do próprio: “(...) não quero morrer agora sem ter a consciência absoluta do que é um poema. Não quero morrer agora sem ter a consciência absoluta de muitas outras coisas. Não quero morrer agora até porque não quero com ou sem razões morrer agora.”

Muitos outros textos e filmes foi César Monteiro criando, mas esse livro incial, fabricado por um “APRENDIZ-DE-POETA”, continha já os elementos que viriam a marcar a obra futura do cineasta, onde a herança surrealista, sobretudo a heterodoxa – Bataille e Artaud –, se misturava explosivamente e com malicioso sorriso, com a poesia erótico-satírica portuguesa, escatologia de Sade e ainda e sem surpresa com os pensamentos de Nietzche, Deleuze e Agamben. “Filosofia na Alcova” ficou por realizar, mas as ideias ficaram publicamente registadas no “Relatório Confidencial”, incluído em “Uma Semana Noutra Cidade”, publicado pela &etc em 1999:  “Tereis a benevolência de me indultar, seja dos meus erros, seja da minha rude franqueza, mas tenho a convicção de que, quando se fazem filmes, os arrependimentos tardios não servem nada nem ninguém. Não servem sobretudo ao filme e este, a ser, será o de um incorrigível impenitente.”

Num encontro organizado em colaboração com as livrarias Letra Livre, de Lisboa, e Utopia, do Porto, o Sismógrafo propõe uma conversa com Vitor Silva Tavares, editor da &etc, a propósito do lançamento recente do primeiro volume da “Obra escrita”, de João César Monteiro, cuja edição ele próprio se encontra a coordenar. A coincidência entre esta apresentação e a estreia do mais recente filme de Jean-Luc Godard, intitulado “Adeus à linguagem”, assume uma dimensão inesperada, pois é esse território, o do texto passado a imagens em movimento que ambos os autores praticaram, praticam, incessantemente, numa tentativa de aproximação à origem do mundo. Como se pode ler no argumento de “Adeus à linguagem”, um dos personagens diz: “Pois bem, você é jovem/ Está na plenitude da sua beleza, da sua força,/ Experimente portanto.../ Eu, eu vou morrer/ Adeus/ Adeus/ Não quero abandonar-vos/ Não posso receber-vos de novo/ Não quero nada, nada/ Tenho os joelhos no chão/ E os rins quebrados” – a inspiração de Godard provém da amorosa troca epistolar entre George Sand e Alfred de Musset. Autores românticos, JCM e JLG. Ambos comprometidos com a linguagem que aos poucos se retira de cena - Pasolini seria o terceiro vértice desta trindade, que se une pela busca da pobreza das palavras que se opõem ao espectáculo de um mundo em decomposição.

O prefácio de Vítor Silva Tavares para “Morituri te Salutant” intitulava-se "O César tem uma grande telha.” E do primeiro livro de João César Monteiro, edição de autor, escolhemos este verso do poema “Génesis”: 

“Gemer será o nosso último festim” 

*João César Monteiro nasceu na Figueira da Foz em 1939 e morreu em Lisboa em 2003. É autor de uma das obras mais relevantes do cinema português.
 

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Sex, 16 Jan 2015
21:30

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Em colaboração com Livraria Utopia e Editora Letra Livre