HEINZ PETER KNESGesture Studies

Exposição
4 Set – 2 Out 2021

Nesta exposição, Heinz Peter Knes mostra um conjunto de gestos, posturas e movimentos naturais. A instalação apresentada na parede consiste em, aproximadamente, 150 folhas de montagem, cada uma delas focando uma determinada parte do corpo e o seu movimento, recolhendo e associando diferentes gestos. Os protagonistas e as suas características individuais abrem caminho a um vocabulário universal de incorporação estilizada. Em contraste com o formato do retrato, que tem como objectivo captar uma pessoa/personalidade, aqui os encontros anónimos lançam o seu olhar sobre o processo fotográfico. À medida que o foco se desloca para o fragmento, torna-se menos íntima a relação entre o fotógrafo e o sujeito. A estrutura em forma de grelha exposta na parede é dividida em vários componentes, cada um deles chama a atenção para uma expressão física particular: curvar-se para trás, andar, o joelho, a expressão das mãos, a cabeça em repouso... As fotografias mostram gestos familiares, tanto para o espectador como para o sujeito fotografado, enquanto o foco no fragmento e na sua repetição permite ao espectador compará-los com a sua própria aparência. Tal como acontece com as atitudes e os modos de comportamento ou a retórica corporal em geral, as diferentes posturas introduzem códigos sociais e culturais que envolvem o corpo e as suas texturas. Na exposição Gesture Studies [Estudos de Gesto], a gestualidade incorpora o material que permanece latente e se desprende da realidade viva, que elimina códigos e estilos e, assim, vai além da representação e do simbólico, enquanto os códigos gestuais se vêem privados de um sistema de referência partilhado.

Nas primeiras décadas da existência do meio, até 1860, era comum o controlo do corpo durante os processos fotográficos. Por exemplo, para se conseguir focar o rosto de uma pessoa, era utilizado um dispositivo para segurar e manter as cabeças na mesma posição durante o longo tempo de exposição exigido na época para se fazer um retrato: através da tecnologia, as regras do corpo posam como uma força do comportamento humano. O modo como as pessoas se movimentam ou usam o seu corpo depende radicalmente de como uma determinada cultura transmite estas capacidades, uma vez que cada cultura ensina “técnicas do corpo”1. O uso do nosso corpo, e consequentemente o nosso próprio corpo, é influenciado, formado e produzido por uma forma cultural específica. Os corpos configuram-se através das técnicas, que os formam através de uma rede de regras, regulamento e controlo do comportamento físico – o “corpo disciplinado”2 como resultado de um certo tipo de poder que produz um corpo que é útil, tanto a si próprio como à sua prática económica.

O processo de selecção levado a cabo no estúdio de Knes reflecte-se na variedade da série mostrada na exposição. O seu estudo dos gestos mostra a potencialidade das suas variações, bem como o processo contínuo e incessante imanente ao seu trabalho fotográfico. Knes concebeu uma fórmula para encontrar a relação de semelhança, colocando as fotografias na proximidade de outras imagens afins. Este procedimento revela a riqueza de nuances que existe no conjunto, uma diversidade, multiplicidade, produzida através desse modo comparativo. Em vez de destacar os motivos individuais, Knes olha para o conjunto, um valioso repertório sobre a ambiguidade do corpo e do mundo. É difícil livrarmo-nos do fardo da fotografia, ou melhor, das suas esperanças, que foram, ou que ainda são, reivindicadas enganosamente como representação da realidade. Devido ao seu carácter mimético, é demasiado fácil projectar nela semelhanças ou algum tipo de identidade. Afastemo-nos do engano e dediquemo-nos às diferenças que este estudo tem para oferecer.

Melissa Canbaz

1. O sociólogo e etnólogo Marcel Mauss reconhece a importância destas “técnicas” como um índice da variação cultural. No seu ensaio As Técnicas do Corpo, publicado em 1934, Mauss traça uma classificação de várias posturas e gestos adoptados por diferentes culturas.

2. Em Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão (1975), Foucault atende ao “corpo disciplinado” ou “dócil” enquanto objecto maleável sobre o qual se exerce uma força disciplinar. Aqui, o corpo é um objecto que podemos ler para determinar como se organizam os campos de poder durante alguns momentos da história, através dos seus movimentos, posturas e posicionamento que, para Foucault, revelam as forças discursivas que o moldaram.

 

Heinz Peter Knes (1969), estudou fotografia na University of Applied Sciences Dortmund. O seu trabalho como artista desenvolve-se em torno da documentação e da fotografia. Expôs recentemente na Künstlerhaus Bremen (2020), Casa Barragán Mexico City (2019), Thomas Erben Gallery New York (2017). De entre os seus trabalhos mais recentes está também uma publicação sobre o monumento a Marx-Engels em Berlim (2018) e uma documentação sobre as oficinas da Ópera de Paris (2019).

Melissa Canbaz é escritora e curadora em Berlim. Anteriormente, trabalhou para Kuenstlerhaus Bremen e para Haus der Kulturen der Welt. Organizou exposições em Glasgow, Buenos Aires, Bremen e Berlim, entre outros. É a co-fundadora do espaço STATIONS em Berlin-Kreuzberg.

 

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  • Heinz Peter Knes

Exposição
4 Set – 2 Out 2021