RASMUS RØHLINGA.U.T.O.E.N.U.C.L.E.A.T.I.O.N.

Exposição
10 Jul – 8 Ago 2015

Inauguração
Sexta-feira, 10 Julho 22:00

Entrada gratuita

Kasia,

Lembras-te quando falamos acerca de arrogância e disseste que as virtudes desta poderiam ser atingidas e praticadas sem de facto ser-se arrogante?
 
Não me recordo como fomos daí para o tópico relacionado com Moyra Davey, mas penso que tentei (polemicamente) enfatizar o facto de Moyra decretar o virtuosismo de um modo similar àquele que te referias a respeito da arrogância, utilizando de alguma maneira a sua potência sem contudo produzir o seu efeito.

Encontro-me num ponto da minha pesquisa no qual comparo basicamente a forma de Moyra de (anti)habitar o papel do artista, com a forma como, no primeiro dos filmes Alien, Sigourney Weaver, enquanto Ripley, habita o (até esse ponto muito dominado por homens) papel de Space-Joe/protagonista. Ripley é uma manifestação do trauma freudiano masculino (medo masculino da penetração, incompreensão da gravidez, blá, blá) subvertido nesta nesta figura/arquitectura/enredo maternal domesticada. (A crítica de cinema Barbara Creed fala mesmo acerca do filme como uma série de representações formalmente mutantes por ela designadas como "O monstruoso-feminino enquanto mãe arcaica"...!)

Nos Fifty Minutes de Moyra, quando ela está no quarto, emaranhada na família: interrompida pelo marido, pelo filho, pelo cão que entra no plano. Para mim, esta é a cena icónica em Alien: Ripley, informal na sua roupa interior de algodão, na barriga da nave espacial emaranhada em fios e blindagem. Trabalhando o mecanismo sem cerimónias, guiando a nave, mas resistindo à má trip da "capitaneidade", a merda formal do uniforme. Nesta nave Moyra/Ripley trata dos afazeres a partir do seu quarto-cockpit, resistindo a que os mecanismos "interpolativos" de género a conduzam, por assim dizer.
Esta descontracção “na cama“, enquanto estratégia, é a evolução do processo artístico no seu clímax: antes do momento infeliz onde é produzido no trabalho artístico. Serra antes de se virar para o aço (comparação muito má, mas percebes o que quero dizer).

Continuo a pensar a "obra de arte" enquanto representação da ausência: ausência do artista, e o papel do artista como aquele que trabalha sempre no sentido de se substituir/ de substituí-la com um gesto tipo-virtuoso, o qual pretende fazer uma contabilidade sublime das intenções e da presença (perdida) do artista.

Moyra resiste a este ritual virtuoso; ela subverte a manobra virtuosa e nesse sentido é (na origem etimológica do virtuoso conotada com virilidade) precisamente anti-viril. Moyra resiste à execução de representação do virtuoso. Em vez disso, Moyra é presença: ela é uma infraestrutura de afecto e de investigação simultâneos. Ambos simbioticamente cercados e cercando o seu assunto, encontrando agora nele uma profunda, íntima, diarística confidencialidade, contudo anilhando-lo, contextualizando-lo. Ainda assim ela não faz nenhum esforço para passar isto para o gesto artístico => de acumular essas funções de modo a transformá-las num/para um (potente) gesto virtuoso.

Moyra mantém a domesticidade, nunca envia nada fora, nunca põe nada adiante, em vez disso parece que a "encontramos” no seu (aparente) estado civil, no contexto doméstico da sua própria cronologia.

Fifty Minutes, simplesmente como um exemplo, é (formalmente) uma peça como qualquer outra peça, porém ela existe e alcança a sua função/significado/estatuto, sem se submeter aos meios do virtuoso. Tudo isto é terrivelmente problemático, especialmente comparando Moyra Davey a uma monstruosidade maternal, e não tenho realmente nenhum interesse em empregar este tipo de retórica de género, mas até que consiga calibrá-lo, isto significa de facto um grande elogio, uma vez que ela criou uma alternativa perfeita para as convenções relacionadas com o virtuosismo, que penso ser ainda extremamente influente/ problemático para o processo artístico.

xR
 

Rasmus Røhling (Dinamarca, 1982). As mais recentes exposições em que participa incluem: “Speaking Backwards”, SixtyEight Gallery, Copenhaga (2015), “Macho Man, Tell It To My Heart”, Artist Space, Nova Iorque (2013), “Rage and Patience”, HumanResources, Los Angeles (2013), “Elephants”, YEARS, Copenhaga (2013), “Tell It To My Heart, Collected by Julie Ault”, Museum Für Gegenwartskunst, Basileia (2013), “The Congress”, dOCUMENTA (13), Kassel (2012). Røhling é formado pela Jutland Academy of Fine Arts, Dinamarca (2008) e concluiu o Mestrado na California Institute of the Arts (2010). A prática artista de Røhling debruça-se sobre o estatuto da arte como sendo epistemologicamente inominável, e na forma como este potencial afecta a própria metodologia artística.

Amy Zion é actualmente Curadora Assistente no Pavilhão da Dinamarca, na 56a Bienal de Veneza, e na exposição colectiva "Slip of the Tongue", com curadoria de Danh Võ na Punta della Dogana, Veneza, Itália. É co-fundadora e directora da 1747812 Alberta Ltd., uma colecção sedeada em Edmonton, Canada. Desde 2007 que trabalha como editora na Fillip, uma revista de arte semestral publicada em Vancouver, Canada, e distribuída internacionalmente. Zion é mestre em Estudos Curatoriais pelo Bard College, Nova Iorque (2012).

Exposição
10 Jul – 8 Ago 2015

Inauguração
Sexta-feira, 10 Julho 22:00

Entrada gratuita