DAYANA LUCASPedra em flor

Exposição
23 Fev – 19 Mar 2019

Inauguração 
Sábado 23 de Fevereiro 2019, 16h30

Entrada gratuita

A manhã move a pedra sem raiz
O seu repouso de árvore em flor
Qualquer astro é menos que o repouso
De uma pedra em flor
— Daniel Faria

 

A exposição que apresento no Sismógrafo é fruto de várias voltas e acontecimentos, sendo o primeiro uma experiência sonora-onírica-erótica que me levou ao interior dos órgãos das flores, à dureza e beleza das pedras, ao barulho das obras, a uma fábrica de papel reciclado e entre várias outras curvas, à fita de Möbius por ser um lugar interno e externo em simultâneo.

Entretanto, já em 2019, fiz uma nova série de desenhos: a mão soltou-se e agarrou-se ao pincel. Deixei a mão ir e marcar na folha o corpo frágil que inevitavelmente lhe marcava o passo. Pensei simplesmente apresentar estes desenhos em A4 na parede, mas rapidamente percebi que os desenhos precisavam da intimidade de um livro para serem partilhados e eu precisava de outro chão.

Este chão em betão, duro, é também líquido e irregular sendo sólido. É concreto, mas contempla a quebra e o jogo. Desenho nele o fluxo do tempo e a circulação do corpo à volta de um centro: o quadrado de sossego. Com o corpo e com uma vara de ferro como extensão do próprio corpo e da mão, quis dar forma a um território petrificado mas em metamorfose. O visitante será a pedra atirada da pedra pousada ~ situada.

A professora Brenda do 6º ano (1999) foi a primeira pessoa que vi escrever numa folha absolutamente branca, sem linhas de guia pré-impressas. Fiquei deslumbrada pela sua capacidade e segurança de escrever linhas de texto tão perfeitas, uma a seguir a outra, sem qualquer tipo de guia. Depois de ver isto comecei a escrever nos meus cadernos, não sobre as linhas de apoio, mas mesmo no meio entre a linha de cima e a linha de baixo. Foi talvez a primeira suspensão necessária para aprender a lidar com o vazio. Agora, numa folha radicalmente branca, vejo paisagens, e parecendo um poço, um espelho ou um oráculo, ali me encontro com o que não vejo de mim, por estar dentro de mim. São diálogos musicais, quase infantis onde se moldam assuntos sem nome ainda. Esta exteriorização, não resolvendo nada, resolve tudo, porque no fim estou mais leve.

Há uns meses atrás, sentada só na esplanada do café, fui surpreendida pela minha mão a mexer-se sozinha. Parecia que estava a falar livre no espaço, a mão. É o meu desejo para esta exposição: que a mão fale.

 

Dayana Lucas nasceu em 1987 em Caracas, Venezuela. Em 2003 mudou-se para a Ilha da Madeira, de onde são provenientes os seus pais, e em 2006 para o Porto onde obteve a licenciatura em Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2010.  Foi co-fundadora da Oficina Arara e colabora regularmente com o colectivo SOOPA. Desenvolve uma pesquisa prática na área do desenho a par do trabalho enquanto designer na área da cultura, tendo colaborado com músicos, artistas plásticos e diversas instituições culturais portuguesas.

Folha de sala

Exposição
23 Fev – 19 Mar 2019

Inauguração 
Sábado 23 de Fevereiro 2019, 16h30

Entrada gratuita