Sequências 11–12
Cinema
Sáb, 9 Jul 2016
17:00
Projecção
Sábado 9 Julho 2016, 17:00
Entrada Livre
Duração aproximada da projecção 1h,
seguida de conversa com o artista.
É quase sem se notar que por ali, entre a sequência 11, surge, filmado, um haiku de Masoaka Shiki, na sua versão francesa: “Barcos e margens/ respondem-se/ na duração do dia”. As imagens que antecedem e sucedem ao poema – um plano fixo de um edifício, cujo aspecto industrial é surpreendentemente amenizado por um céu onde se observam esfumadas formações iluminadas por um sol nascente e um movimento de câmara suscitado pela aparição de sombras numa parede – também dialogam entre si, como se todos os acontecimentos fossem apenas um e cada instante a manifestação do tempo que passa sobre o mundo, sobre nós.
As sequências de Sérgio Taborda podem ser conceptualmente aproximadas aos haikus. Concisão, beleza, e sobretudo aquilo que em japonês é definido pela palavra “kiru” (corte), são algumas das características deste género de poesia. Essa cesura no texto tem o objectivo de criar um momento de suspensão, ao qual se segue uma imagem inesperada, muitas vezes destinada a revelar simultaneamente a eternidade e a efemeridade presentes em cada instante de uma existência. O mesmo se passa com os filmes do artista: na sua brevidade, por vezes os vídeos não chegam a ter um minuto, eles procuram o máximo de efeitos, potenciados pela sua sucessão numa sequência.
No Sismógrafo serão apresentadas as sequências 11 e 12, ambas inéditas e onde se reúnem instantes filmados em diferentes geografias, entre 2010 e 2015. Fixemos a atenção no primeiro bloco de acontecimentos – e lembramos também a importância do plano-sequência para a concepção destas obras, que, ao integrarem vídeos captados em diferentes situações, funcionam também enquanto colagens. Nele, após os momentos atrás descritos, vão-se suceder um conjunto de planos onde a luz – seja ela a de um candeeiro de mesa, a de intermitentes semáforos, a do sol, a de nocturnos relâmpagos, ou a de um “giroflex” de um carro da polícia, neste caso fora de campo – assume um papel determinante. Poderia dizer-se que, numa nova aproximação aos haikus, esta é uma sequência iluminada, podendo ver-se nesta vizinhança – entre poesia e cinema – ecos rimbaldianos, sobretudo o desregulamento dos sentidos, de modo a que deixe de haver uma separação entre o eu e o outro, entre o criador e o espectador.
Em termos cinematográficos, é importante sublinhar a relação de Sérgio Taborda com obras de outros autores, como Peter Hutton, recentemente falecido, e James Benning. E novamente nos surgem as palavras concisão, beleza, duração, acontecimento, para descrever as obras destes cineastas independentes, sempre próximos da natureza, da paisagem, dos transportes que as atravessam – a marinha mercante, no caso do primeiro, os comboios, no caso de Benning, como se pode observar nas obras seminais “At Sea” (2007) e “RR” (2007), respectivamente –, do entendimento da vida enquanto impermanência: “A morte chega –/ Alguém ri às gargalhadas/ Nas ameixoeiras (Masaoka Shiki).
Sérgio Taborda nasceu em 1958, Vila Nova de Poiares (Coimbra). Vive e trabalha em Berlim e Lisboa. Atualmente é artista/investigador residente no Arsenal – Institut for Film and Video-Art, em Berlim, no âmbito de uma bolsa individual de investigação pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Cinema
Sáb, 9 Jul 2016
17:00
Projecção
Sábado 9 Julho 2016, 17:00
Entrada Livre
Duração aproximada da projecção 1h,
seguida de conversa com o artista.