MIKHAIL KARIKISVozes, Comunidades, Ecologias

Cinema
Sex, 28 Out 2022
22:30 – 23:30

em colaboração com Passos Manuel

Cinema Passos Manuel
Rua de Passos Manuel 137, Porto (ao Coliseu) 
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Entrada livre

O Sismógrafo, em colaboração com o Passos Manuel, apresenta um programa em torno da filmografia de Mikhail Karikis. Um dia antes da inauguração da sua exposição Somos o tempo, no Sismógrafo, terá lugar Vozes, comunidades, ecologias - um conjunto de cinco filmes, no cinema Passos Manuel.

Sons subterrâneos (2012), 7’

Na sua primeira colaboração com uma comunidade, Mikhail Karikis trabalhou com um grupo de velhos mineiros em Inglaterra, vinte anos depois de terem perdido os seus empregos e da sua aldeia ter sido abandonada. “Sons subterrâneos” foi gravado na mina de carvão desativada onde o grupo de mineiros trabalhou até 1986, quando o então governo britânico a encerrou. Ao longo de seis meses, Karikis convidou os mineiros a recordar e reproduzir através do canto os sons que costumavam ouvir quando trabalhavam na mina e criou uma composição. Neste vídeo (co-criado com Uriel Orlow), a mina desolada transforma-se num anfiteatro que, pela voz dos mineiros, ecoa explosões subterrâneas, alarmes e outros ruídos mecânicos. Ouve-se, ainda, um lamento dos mineiros. A escritora e curadora Katerina Gregos escreveu: “documentando uma comunidade de trabalhadores que serviram uma indústria extractiva, o trabalho de Karikis é simultaneamente político e poético, rompendo as convenções de realismo documental e explorando a solidariedade de partilhar um objectivo comum no trabalho e no canto. Trata-se de um resgate da memória, um tributo e um lamento colectivo”.

 

SeaWomen (2013), 16’

Esta obra, uma instalação de vídeo e som adaptada para projecção cinematográfica, centra-se numa comunidade em extinção de trabalhadoras do mar, idosas, que vivem em Jeju, uma ilha vulcânica sul-coreana, entre o Japão e a China. A obra foi criada quando Karikis, durante uma estadia na ilha, encontrou um grupo de mergulhadoras com idades entre os 70 e 80 anos. Mulheres que mergulham, sem oxigénio, até uma profundidade de vinte metros para encontrar pérolas e apanhar marisco, usando uma técnica de respiração tradicional passada de geração em geração. Esta antiga profissão tornou-se, nos anos 70, a principal força económica da ilha, instaurando um sistema matriarcal. O filme de observação de Karikis testemunha a insistência das mulheres idosas no trabalho ecofeminista tradicional sustentável que funciona à margem da tendência da pesca industrializada. Capta a inversão dos tradicionais papéis de género, o sentido de comunidade e a economia colectiva das mulheres, a sua sólida subcultura, a identidade profissional, os propósitos e a diversão ao longo da vida. Após a realização desta obra, a cultura desta comunidade foi consagrada Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, e as gravações sonoras de Karikis foram incluídas no documentário de David Attenborough para a BBC, Aquatic Mammal Hypothesis.

 

Filhos da inquietação (2014), 16’

Este filme explora os temas da pós-industrialização, da sustentabilidade e da futuridade. Karikis trabalhou com quarenta e cinco crianças, de idades compreendidas entre os 5 e 12 anos, que vivem numa região vulcanicamente activa conhecida como o Vale do Diabo, na Toscana, onde, em 1910, se construiu a primeira central energética sustentável do mundo. Até aos anos 80, cinco mil trabalhadores e as suas famílias ali viviam, em aldeias industriais entretanto abandonadas devido ao desemprego causado pela automatização da central geotérmica. Este filme apresenta a conquista imaginária levada a cabo pelas crianças de uma aldeia industrial deserta e das suas áreas circundantes. Assistimos, em três capítulos, a um retrato coral do lugar, com crianças que lêem sobre o amor como veículo de mudança e se apropriam do espaço mediante divertidas brincadeiras.

 

Ain't Got No Fear (2016), 10’

Este projecto foi criado com um grupo de jovens adolescentes que cresceram num pântano industrial militarizado no sudeste de Inglaterra. Em 2015, em resposta ao isolamento da sua aldeia e à falta de espaço que sentiam, os jovens organizaram raves num bosque local isolado, até que foram apanhados pela polícia. Karikis trabalhou com os jovens durante um ano, explorando formas de reimaginar os espaços industriais com uma energia definida pela amizade, o amor e o jogo, bem como uma justiça espacial estimulada pela emoção de subverter a autoridade e de evitar a vigilância de adultos. Ain't Got No Fear é uma evocação de um videoclipe. Recolhendo amostras dos ruídos estrondosos da central elétrica local, Karikis e os jovens coescreveram uma canção rap em que os jovens cantam sobre as suas infâncias e os seus futuros. O filme evoca as experiências da adolescência nos limites da urbanidade. Segue os jovens até aos seus esconderijos subterrâneos e capta a ruidosa reivindicação de um espaço com máscaras demoníacas, numa resposta lúdica e crítica aos sentimentos de demonização por parte dos adultos e da polícia.

 

No Ordinary Protest (2018), 8’

Para este filme, Karikis colaborou com estudantes de sete anos de uma escola primária do leste de Londres, adoptando o romance de ficção científica The Iron Woman, de Ted Hughes, como uma parábola eco-feminista na qual a escuta e a produção de ruído se tornam ferramentas para promover a mudança. No filme de Karikis, um grupo de crianças recebe uma misteriosa mensagem sobre um ruído enigmático e sobre uma emergência ecológica causada pelos adultos. Debatem e descobrem um sentido de responsabilidade partilhada em relação ao ambiente e aos animais. O canto das crianças começa a fazer vibrar a matéria, enquanto as próprias crianças se transformam em agitadores mascarados que testam os seus poderes através da produção de ruídos comunitários.

 

Mikhail Karikis (Thessaloniki, Grécia, 1975) vive entre Londres e Lisboa. O seu trabalho nas áreas da imagem em movimento, som, performance e outros meios tem sido mostrado em bienais de arte contemporânea, museus e festivais de cinema. Seleccionado, em 2019 e 2016, para o Film London Jarman Award, Karikis integrou diversas exposições internacionais, destacando-se: Lisboa Soa (2022); 2nd Riga Biennial, LV (2020); Kochi-Muziris Biennale, IN (2016); British Art Show 8, UK (2015-2017); Steirischer Herbst, AT (2015); 5th Thessaloniki Biennale, GR (2015); 19th Biennale of Sydney, AU (2014); Mediacity Seoul/SeMA Biennale, Seoul, KR (2014); Videonale 14, Kunstmuseum Bonn, DE (2013); 2nd Aichi Triennale, JP (2013); Manifesta 9, BE (2012); Danish Pavilion, 54th Venice Biennale, IT (2011). Realizou exposições individuais em instituições como: Carpintarias de São Lázaro, PT (2022); Tate Liverpool, UK (2020); Fondazione Sandretto Re Rebaudengo, IT (2019); Middlesbrough Institute of Modern Art, UK (2019-2020); De la Warr Pavilion, UK (2019-2020); MORI Art Museum, Tokyo, JP (2019); Whitechapel Gallery, London, UK (2018-2019) e Turku Art Museum, FI (2018); entre outras. Karikis lançou três álbuns de música a solo, também actua como músico e dirige o programa de doutoramento da MIMA School of the Arts and Creative Industries.

Folha de sala

Cinema
Sex, 28 Out 2022
22:30 – 23:30

em colaboração com Passos Manuel

Cinema Passos Manuel
Rua de Passos Manuel 137, Porto (ao Coliseu) 
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Entrada livre