SEBASTIÃO RESENDEFecit Potentiam

Exposição
8 Mar – 9 Abr 2014

Inauguração
Sábado, 8 Março 16:00

Entrada gratuita

"Fecit potentiam" é o título da exposição de Sebastião Resende (Oliveira de Azeméis, 1954). Com curadoria de Óscar Faria, a mostra foi composta por um conjunto de trabalhos inéditos – escultura, fotografia e instalação –, que não só prolongam as linhas de pesquisa anteriormente desenvolvidas pelo artista, mas também revelam um novo corpo de investigação: uma alegoria acerca das metamorfoses da arte e da vida realizada a partir do acompanhamento do processo de transformação do bicho-da-seda depois de invadir maquetas de museus. As obras agora reveladas podem ser ainda interpretadas como um comentário aos paradoxos e contradições inerentes a um tipo de arte de pendor conceptual, que, apesar de fazer da ideia e da linguagem os seus domínios, não deixa, contudo, de sentir o apelo pela produção de objectos. Na primeira sala do Sismógrafo, Sebastião Resende apresentou duas esculturas de grandes dimensões, sendo que numa delas o artista integrou uma série de terras e areias provenientes de várias geografias – de Cabo Verde à Palestina. Este trabalho foi colocado em diálogo com oito fotografias, as quais, tomando como modelo as imagens habitualmente realizadas por instituições museológicas, revelam os materiais ocultos no interior da peça escultórica. O espaço seguinte é totalmente preenchido pela obra que dá título à exposição. "Fecit potentiam" foi uma instalação composta por uma maqueta – onde se reconhece o Museu de Arte Contemporânea de Serralves –, imagens que documentam diferentes fases da sua realização, sons e um "atlas" dedicado à bombyx mori, o nome latino da mariposa com origem na larva mais comummente conhecida como bicho-da-seda. Inspirada no título de um dos movimentos do Magnificat, de J.S. Bach, precisamente intitulado Fecit Potentiam, a exposição de Sebastião Resende traduz assim uma vontade de transgressão dos limites, sociais, institucionais, económicos, que ainda continuam a condicionar quer o fazer artístico, quer os modos de acesso e transmissão de um saber em constante mutação. Ao olhar-se para as marcas, resíduos e matérias orgânicas que ainda habitam a maqueta exposta no Sismógrafo, não pode deixar de pensar-se numa desejada e heterodoxa ocupação de um espaço, o museu, cada vez mais sujeito a uma condição de mausoléu. Como se lê no Cântico de Maria, contido no Evangelho Segundo São Lucas, o texto que serviu de base para o compositor alemão estruturar a sua peça é aqui apropriado como metáfora do ato criativo: "Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias." Há uma potência a realizar. O exemplo vem-nos da curta vida de uma larva, que se transforma em mariposa, para logo morrer. Como refere Giorgio Agamben: "Nós devemos ainda medir todas as consequências dessa figura da potência que, doando-se a si mesma, se salva e cresce no acto. Ela obriga-nos a repensar do zero não apenas a relação entre a potência e o acto, entre o possível e o real, mas também a considerar de uma forma nova, na estética, o estatuto do acto de criação e da obra, e na política, o problema da conservação do poder constituinte no poder constituído."