Eu não sei dizer mais
Exposição
14 Ago – 12 Set 2015
Inauguração
Sexta-feira, 14 Agosto 22:00
Entrada gratuita
A água é o elemento central da instalação que Sara Rodrigues (Porto, 1990) inaugura na próxima sexta-feira no Sismógrafo. Através do registo quer de acções quotidianas, quer de viagens recentemente efectuadas, a artista foca a sua atenção no elemento líquido. Essa documentação visual, apresentada através da sobreposição de imagens a partir de uma dupla vídeo projecção, é acompanhada por uma peça sonora onde se incluem não só “ field recordings”, mas também vocalizações da autora de músicas onde a água surge como motivo central.
A exposição, a primeira individual de Sara Rodrigues, inclui ainda uma mesa que será activada através de diversas acções, como o simples gesto de beber um copo de água, o registo diário do boletim meteorológico – a construção desta narrativa recorda a observação realizada por Henry David Thoreau durante a sua permanência na cabana por si construída junto ao Walden Pond, um lago situado em Concord, Massachusetts –, ou a recolha de letras de canções onde esteja presente o elemento líquido. Com este material, a artista irá construir a performance com que encerrará a mostra, em Setembro.
Entre os autores convocados por Sara Rodrigues para o processo da exposição destaca-se Gaston Bachelard, nomeadamente o seu ensaio A Água e os Sonhos: Ensaio sobre a imaginação da matéria (1942), onde se lê: “O ser votado à água é um ser em vertigem. Morre a cada minuto, alguma coisa da sua substância desmorona-se constantemente. A morte quotidiana não é a morte exuberante do fogo que perfura o céu com as suas flechas; a morte quotidiana é a morte da água. A água corre sempre, a água cai sempre, acaba sempre na sua morte horizontal. Em numerosos exemplos veremos que para a imaginação materializante a morte da água é mais sonhadora que a morte da terra: o sofrimento da água é infinito.”
Refira-se ainda que o título da exposição, “Eu não sei dizer mais”, tem origem no texto <i>Primeiro Fausto</i>, de Fernando Pessoa:
Ah, tudo é simbolo e analogia!
O vento que passa, a noite que esfria
São outra cousa que a noite e o vento —
Sombras de vida e de pensamento.
Tudo o que vemos é outra cousa.
A maré vasta, a maré ansiosa,
É o eco de outra maré que está
Onde é real o mundo que há.
Tudo que temos é esquecimento.
A noite fria, o passar do vento
São sombras de mãos cujos gestos são
A ilusão mãe desta ilusão.
Sara Rodrigues (Porto, 1990) vive e trabalha em Londres. Formada em Belas Artes pela London Metropolitan University, está atualmente a estudar Composição Contemporânea e Arte Sonora na Goldsmiths University. O seu trabalho é multidisciplinar, abrangendo composição audiovisual, performance e instalação. Integrou exposições colectivas na Arbeit Gallery, Londres, na Galerija Miroslav Kraljevic, Zagreb e na Galeria Quadrado Azul, Porto/Lisboa, tendo ainda participado, em 2014/15, na residência "1ª Avenida", no Porto. É fundadora, com a curadora Cristina Ramos, do projeto ‘The LivingRoom’, um espaço nómada dedicado à apresentação de artes multidisciplinares. É também membro do New Music Ensemble na Goldsmiths, colectivo com que apresenta regularmente trabalho.
Exposição
14 Ago – 12 Set 2015
Inauguração
Sexta-feira, 14 Agosto 22:00
Entrada gratuita