PEDRO MORAISÉ

Exposição
20 Mar – 11 Abr 2015

Inauguração
Sexta-feira, 20 Março 22:45

Entrada gratuita

Na primavera de 1686, o poeta Matsuo Bashô reuniu na sua cabana, em Fukagawa, um conjunto de amigos que foram convidados a comporem poemas acerca de rãs. Podemos imaginar o divertimento dos convivas à sombra da bananeira plantada junto à entrada, em busca de inspiração, certamente potenciada pelo saké e pela visão das estrelas. O encontro ficou conhecido como a reunião da rã ("Kawazuaze") e dele surgiram 41 poemas compilados por Senka num volume com o mesmo título do convívio. 

Um espirro, água a correr entre muros, uma corrente de ar, uma lâmina ou uma chama são matéria-prima para a arte de Pedro Morais, que provavelmente forma algumas das suas ideias enquanto está sentado, dando atenção ao mundo e às suas variantes, em instantes de lenta respiração ou nos goles de uísque, bebido pela noite dentro enquanto fuma enrolados cigarros.

Tudo chega no tempo certo, na mudança das estações, que obrigam também ao cuidar da terra, mesmo seca. Há que permanecer, atentamente ficar, para se descobrir a impermanência, a lenta mutação das horas, cortadas por sombras e iluminações. "É".

Um haiku é um verso que dispara de repente em todas as direcções. Por vezes leva anos a compor. E tem as suas regras, quebradas já no século XX, entre outros, por Santoka Taneda. O haiku é também um lugar solitário. Ele rebenta do corpo entre colisões de sentidos ou sentimentos contraditórios. E surge exacto, enxuto, pleno de vitalidade, mesmo quando escrito perto de um fim: "A minha vergonha neste mundo/ será em breve esquecida – excursão de primavera" (Shokei, 1895)

Há um silêncio fundamental necessário àquilo que se vê e se escuta. É a partir daí que tudo se torna claro e também misterioso, sem necessidade de explicação.O rigor do desenho espelha a exactidão conceptual: Pedro Morais, disse-o várias vezes, pinta a quatro dimensões. E se mestres tem, algo ainda por provar, eles chamam-se Dōgen Zenji, Eckhart de Hochheim, Muqi Fachang, Jiddu Krishnamurti, Marcel Duchamp, Hogen Yamahata e Thich Nhat Hanh.

Quisemos celebrar este equinócio com Pedro Morais e prolongá-lo por várias semanas, com as suas caixas, sementes douradas (oliveira, dióspiro, pinheiro), terras pintadas de azul e frases. É assim e não podia ser com outra forma. Queremos também agora, aqui, sentar-nos e respirar lentamente. E sobretudo transmitir um exercício de aprendizagem: a do rigor descoberto na natureza que todos os dias renasce e se muda para voltar novamente ao mesmo.

As rãs e as cigarras eram motivos através do quais Bashô nos pretendia dizer do profundo silêncio relacionado com a impermanência da existência, que no caso de alguns poetas zen, se traduzia num viver vagabundo e desobediente. Ikkyu é outro desses autores, alguém que sempre manifestou a sua natureza, tal como o fazem uma planta, um insecto ou um animal. 

Esta é uma exposição que está próxima da natureza e de nós próprios, sem nenhuma distância a separar-nos, do artista, das obras agora reveladas e do mundo. Daqui lançamos, como pequenas sementes, três textos que procuram prolongar, como círculos concêntricos, os trabalhos realizados por Pedro Morais para “É”:

....

quietude ah 
rochas para escoar 
a cigarreia

Matsuo Bashô (1694)

....

olha para as flores da cerejeira! 
cor e perfume tombam com elas, 
foram-se para sempre,
porém, idiota 
a primavera regressa 

Ikkyu (1394-1481) 

....

esta viagem – 
infinita viagem, 
tsuku-tusuku-boshi 

Taneda Santoka (1940) 

....

Do percurso de Pedro Morais pode destacar-se a sua permanência em Paris entre 1965 e 1977, após a qual regressa a Lisboa, onde irá desenvolver, de 1979 a 1994, na Escola António Arroio, uma das experiências pedagógicas artísticas mais relevantes do pós-revolução, o Atelier Livre AT.RE. Desde a década de 1980, tem vindo a expôr o seu trabalho sobretudo em institituições e espaços independentes, como a Sociedade Nacional de Belas Artes, o Museu Nacional de Arte Antiga, o Boqueirão da Praia da Galé, o Centro de Arte Moderna (Fundação Calouste Gulbenkian), o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, a Culturgest (Chiado 8) e o Edifício Avenida.
 

Exposição
20 Mar – 11 Abr 2015

Inauguração
Sexta-feira, 20 Março 22:45

Entrada gratuita