Crocodoxa
Exposição
18 Dez 2015 – 23 Jan 2016
Inauguração
Sexta-feira, 18 Dezembro 22:00
Entrada gratuita
Um dos princípios de trabalho dos Von Calhau! é o da mutação ou, dito de um outro modo, da impermanência. Um trabalho realizado há anos pode voltar a reaparecer num outro contexto, com uma outra forma, sem, contudo, perder a sua integridade inicial. Deve ver-se neste procedimento uma espécie de eterno retorno, de pescadinha de rabo na boca, de ouroboros, aquele que devora a própria cauda. A exposição “Crocodoxa” não foge à excepção, nela é possível encontrar obras antigas em diálogo com novas peças, acrescentando assim outros significados ao percurso dos artistas, praticantes de uma arte da fuga, onde cada movimento pode ser interpretado como sendo o contraponto do anterior.
A água é um dos elementos centrais da mostra. O Crocodilo nela navega e nela se lava num ciclo infinito. O réptil pode assim mascarar as suas lágrimas, nem que seja por breves instantes, os necessários para consumar a ilusão. O seu paradoxo é o de ordem visual: chora ou banha-se? Lamenta ou relaxa? Espirra ou bebe? Através de uma fala de Otelo, numa cena em que entram também Ludovico e Desdémona, Shakespeare diz-nos: “Oh, demônio! Demônio!/ Se, com lágrimas de mulher fosse a terra fecundada,/ cada gota geraria um crocodilo./ Fora da minha vista!”
Uma exposição a puxar às lágrimas de crocodilo, portanto. Há ainda uma mão que treme ou não fosse a mostra no Sismógrafo; um chuveiro, para quem precisa de expiar a culpa, que morre solteira; e um desenho, que são três, inédito, embora datado de 2012 e realizado entre York, Glasgow e Penzance.
Para voyeurs, barbudos e barbudas, apreciadores de anedotas auto-reflexivas, de oximoros – “o crocodilo é um animal de uma bondade cruel” –, e de almanaques – sobretudo o borda-d’água –, oulipianos – a actual vice-reitora do colégio é Sua Magnificência a Crocodilo Lutembi – e patafísicos, este projecto dos Von Calhau! propõe uma sucessão de acontecimentos e de correspondências, que depois entram em loop durante hora e meia. Um ciclo com oito capítulos, que lembra o moto de Heraclito de Éfeso: “Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai.”
Ó diacho! Tirem-na da minha vista! Esta é uma exposição de ir às lágrimas! Ficamos em pele de crocodilo!
Von Calhau! nasceu em 2006. É a designação do corpo de trabalho desenvolvido em comunhão por Marta Ângela e João Artur. Opera na zona gaso-refundida que separa ritmos vitais de fluxos coreografados. Tem apresentado trabalho na Europa e arredores.
* A exposição, tanto na inauguração como nos restantes dias (quinta a sábado, 17h30–19h), tem a duração fixa e predeterminada de 1h30, estando a porta do Sismógrafo aberta, para se poder entrar e sair, durante apenas esse período.
Exposição
18 Dez 2015 – 23 Jan 2016
Inauguração
Sexta-feira, 18 Dezembro 22:00
Entrada gratuita