Corpo rebelde, corpo vulnerávelCiclo Imagens de Pensamento
Curadoria de Susana Camanho & Emídio Agra
Pensamento
Qui, 25 Jul 2024
19:00
– 20:00
no Sismógrafo
Entrada gratuita
Curadoria de Susana Camanho & Emídio Agra
(Fotografia: Bárbara Fonte, 2023)
Porquê voltar a falar de caça às bruxas? Nos últimos anos, o tema voltou à luz do dia, tendo-lhe sido dado o peso devido na história europeia e americana. Assim, salientou-se como a caça às bruxas conseguiu privar as mulheres das suas práticas médicas, como foram obrigadas a submeter-se ao controlo patriarcal da família nuclear, enquanto se desmantelava a ideia holística da natureza que, até ao Renascimento, tinha imposto limites à exploração do corpo da mulher. Além disso, a Nova História e também a micro-história de Carlo Ginzburg contribuíram para que se abrissem pequenos arquivos e se estudassem documentos que nos deram uma imagem mais precisa e detalhada de muitos processos. Neste sentido, é fundamental o livro Calibã e a Bruxa, de Silvia Federici, onde podemos ver como as disputas das populações que levaram tantas mulheres à tortura e à morte foram o início de uma nova ordem mundial. Segundo Federici, a caça às bruxas situa-se na encruzilhada dos processos sociais que abriram o caminho ao nascimento do mundo capitalista moderno. Neste contexto, o trabalho de Federici leva a cabo uma reflexão explícita sobre o corpo da mulher, sobre a sua dominação e a sua vulnerabilidade. De facto, ocupar-se de bruxas é significativo, pois na figura da bruxa encontramos tanto a vulnerabilidade como a rebelião, numa dimensão especificamente corpórea.
Stefania Fantauzzi é filósofa e investigadora do seminário “Filosofía y Género” da Universidade de Barcelona e do “GAPP- Grupo Arendtiano de Pensamiento y Política”. Professora de Filosofia na Universidade Autónoma de Barcelona. É licenciada em Filosofia pela Universidade de Bolonha e doutorada em Filosofia pela Universidade de Barcelona. Fez investigação no Hannah Arendt Zentrum em Oldenburg, aprofundando o seu conhecimento sobre o papel da violência no pensamento de Arendt, autora à qual se tem dedicado e sobre a qual tem vindo a publicar vários artigos e ensaios. É editora do volume Participar del món (Editora Lleonard Muntaner, 2020), que apresenta os escritos de Arendt publicados na revista Aufbau nos anos 30 e 40 do séc. XX e autora do prólogo de Desobediencia civil de Hannah Arendt (Editora Lleonard Muntaner, 2022) e do posfácio de L’home dalt del pont de Günther Anders (Club Editor, 2023). Conjuga a investigação com a tradução, traduzindo, entre outras obras, Come fare cose com i ricordi (2009) e I brutti scherzi del passato (2010), ambas de Manuel Cruz, e Democracia surgente (2022) de Adriana Cavarero.
Imagens de Pensamento
Imagens de pensamento dá título a este ciclo de conferências que abre um espaço na programação do Sismógrafo para pensar as imagens e através das imagens. Pretende-se com estas conferências unir o discursivo e a imagem, confrontá-los, reconhecer o potencial de uma imagem, de um fragmento, resgatando experiências vitais ameaçadas num presente incerto. Estes tempos da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”, turbulentos e inquietantes, tempos de pandemias, de crises ecológicas, financeiras, políticas e sociais, são “tempos interessantes”, para usar a expressão popularizada por Eric Hobsbawm. Tempos interessantes especialmente para o pensamento. Pensar é já contribuir para uma mudança. Este ciclo reivindica uma cooperação entre a força expressiva da arte e a precisão da filosofia. Sem uma linguagem que as acolha, as imagens podem cegar-nos ou nada dizer. Com estas conferências, o Sismógrafo procura cuidar o que Alexander Kluge chama um “jardim de cooperação”, um lugar que preserva os momentos em que a palavra e a imagem convergem de forma a produzirem algo novo, um espaço para a discrepância e a cooperação face às cacofonias da informação, face à manipulação industrial e escravização dos sentimentos. Em tempos difíceis, de cisões e segregações, a cooperação apresenta-se como um antídoto do tribalismo (Richard Sennett). Para abrir na cidade este jardim, este espaço de debate e polifonia, o Sismógrafo convidou oradores ligados à filosofia, à estética, à crítica de arte, às artes plásticas e ao cinema que, em diferentes momentos e desde diferentes perspectivas, procurarão apresentar um diagnóstico do presente.
Pensamento
Qui, 25 Jul 2024
19:00
– 20:00
no Sismógrafo
Entrada gratuita