Work hard, play harder!!!
Exposição
6 – 28 Abr 2018
Inauguração:
Sexta, 6 Abril 2018, 22:00
Entrada gratuita
É como um pequeno flash de memória que nos invade e faz visitar tempos já passados. Um raio que nos transporta para as quadrículas dos nossos antigos cadernos de matemática. Os desenhos de um adolescente que está mais preocupado em matar o tempo entre equações matemáticas na, não longínqua, era dos quadros pretos de giz. Parece há tanto tempo - suspira-se - e, para acentuar o cliché: foi só ontem.
Work hard, play harder!!! o título de uma exposição que visita esses tempos passados, vários e de uma forma caótica, como de resto o é essa memória e fá-lo não na nostalgia de uma infância perdida, mas na escuridão de não se querer tomar um caminho já pré-definido. Os cadernos e os desenhos são simbólicos, passam a ser entendidos como actos de resistência a uma equação que já não é mais acompanhada pela voz autoritária daquele que ensina, mas pelo patrão, por aquele que poderia ser o patrão, ou por aquele que o quer impor.
É uma exposição que no seu todo visita vários aspectos da vida contemporânea: da infância e da adolescência à maioridade e ao trabalho; das estruturas capitais aos objectos e posições fetiche por elas perpetuadas; das expectativas à fuga e à descrença. Um conjunto de trabalhos, que seguem pequenos actos de resistência na capitalização do que é o tempo de trabalho. O trabalho que paga as contas, esse bicho de seis patas que nos permite continuar a comprar, a adornar as entradas das nossas casas nos subúrbios das grandes cidades.
Uma vez o Rik contou-me o quanto ele sempre gostou de desenhar, enfatizou-o repetindo "mesmo" duas vezes: "Oh, eu sempre gostei mesmo, mesmo de desenhar (...) Oh, eu sempre gostei mesmo, mesmo de desenhar". Esta exposição começa precisamente com a ideia de desenhos que serviram como uma fuga para um momento de que o artista não queria fazer parte. As crianças crescem e têm de trabalhar e em vez de uma sala de aula têm um emprego, contas para pagar e aí por diante. O acto de desenhar foi aqui entendido como um acto de resistência. Resistência ao que o professor ia ensinando e, agora, aos momentos mortos de um guarda de museu, um funcionário do bengaleiro, um assistente de sala de espetáculos. Os desenhos, e principalmente o acto de desenhar, tornaram-se um instrumento de desvio a uma postura imposta, um pequeno gesto de rebeldia e uma forma de não vender apenas o tempo a um empregador/serviço, mas de o fazer vendendo um tempo proveitoso. Aqui, revisitar a adolescência, não é fazê-lo apenas no modo de copiar os gestos de outrora, mas de aplicar estratégias de fugas de outros tempos a estes novos que se vivem. Diria que a exposição começa aqui, para depois viajar por entre a ironia e a frustração para com as expectativas criadas por um mundo consumista, capitalizado.
A ironia é algo transversal a todas as obras que Rik Peeters apresenta no Sismógrafo. As colagens de desenhos e fotografias de eventos sociais dão o mote a isso: uma expectativa de que o artista deseja fugir aliada ao imaginário monstruoso das figuras que vai construindo. Ambas são representações de tempos passados, juvenis, aqui reinterpretadas para os dias de hoje. As fotografias nocturnas que interceptam essas colagens: imagens de ornamentos nas frentes das casas suburbanas de classe média/alta, arbustos perfeitos ou insultos perdidos numa parede acentuam esses sentimentos. Uma série de imagens que trazem de volta os tempos em que pela noite se redescobriam os espaços residenciais envolventes, apreendendo-os, entendendo-os enquanto se provavam os primeiros goles de independência. E depois a escultura, um homem de seis pés, uma aranha humana petrificada. Imagine-se o potencial de um homem de seis pés no mundo dos negócios... seria pelo menos três vezes mais rápido que os outros. Num campo de futebol chegaria à bola mais facilmente do que todos os outros 21 jogadores. Jogaria duro. Ganhava tanto que podia usar um relógio extravagante e fazer um \,,,_ ao mesmo tempo. Fácil. Chill.
Work Hard, Play Harder!!! desdobra-se nessa ambiguidade de não entender realmente o que se evoca no termo “play”: se alguém deve trabalhar arduamente e depois aproveitar a vida; aproveitar ao limite com os amigos: rir, beber… sem preocupações com o resto ou se, pelo contrário, se deve trabalhar duro, sim, mas jogar ainda mais duro: ser o jogador que conquista o topo. Uma aranha mortífera que sorri com o lado esquerdo e aniquila com o direito. A dúvida do significado de “play” permanece. O artista continua a jogar com o patrão, sorrateiramente desenhando no horário de expediente, moldando os sapatos de trabalho ou acordando, à noite, os ornamentos das entradas das casas.
Pedro Huet
Rik Peeters (Mechelen, 1993). Vive e trabalha em Bruxelas, Bélgica. Licenciado em Artes Plásticas pela LUCA – School of Arts (Brussels, Belgium) em 2014, concluiu o mestrado na mesma instituição em 2016. Estudou na Academia de Belas Artes de Viena entre 2013/14. É membro-fundador, juntamente com Ans Mertens, Remko Van der Auwera e Tom Hallet, do Soil Collective: colectivo direccionado para a produção de trabalho artístico e para a curadoria. Das exposições recentes destacam-se a mostra individual “Raisor”, no Sagacity (Bruxelas, 2017) ou as colectivas “Evidence” no Kunstpodium T (Tilburg, 2016) ou “STURM DER LIEBE”, no Etablissement d’en Face (Bruxelas, 2016). Com os Soil Collective participou em “No performance please”, no espaço These Things Take Time (Gent, 2015) ou “A bit monotonous but restfull (not) all the same” no espaço dos Soil Collective (Bruxelas, 2015).
Exposição
6 – 28 Abr 2018
Inauguração:
Sexta, 6 Abril 2018, 22:00
Entrada gratuita