c for heads / h para cabeças
Exposição
3 Fev – 3 Mar 2018
Inauguração
Sábado, 3 Fevereiro 2019, 16h
Entrada gratuita
Exilado
Óscar Faria.
Dois periquitos conversam entre si, depois de se terem olhado ao espelho:
- Perdemos as nossas cabeças.
- Sim, alguém nos transformou num holograma.
- E depois um artista tapou a nossa identidade.
- Uniu-nos com uma mancha, de cor castanha.
- Olha, este espectador está a tentar ver se consegue ouvir o nosso chilrear.
- Ainda não percebeu que agora somos uma obra de arte.
- Acéfalo é ele!
- Lol…
- Tenho saudade da alpista.
- Sede é o que sinto.
- E lembras-te da gaiola… era pequena… uma prisão.
- Recordo-me é do fotógrafo, muito sagaz.
- Não paravas quieto… agarravas-te às grades com as unhas e mordias-lhes os dedos com o bico…
- Fui o primeiro a sair da gaiola…
- E também tiveste a primazia de seres empalhado antes de mim.
- Até ficamos bem na fotografia.
- Estávamos quietinhos… era difícil ficarmos desfocados.
- Agora temos tinta colada às nossas cabeças.
- Gostava tanto quando cuidavas das penas da minha com o teu bico…
- Pelo menos a nossa espécie ainda não está extinta…
- O Periquito-de-rodrigues, esse, coitado…
- Desapareceu, lá para os lados de Madagáscar, no Índico.
- Era muito manso e capaz de imitar a fala humana.
- Lembro-me de o ver no livro de memórias de François Leguat, o líder de um grupo de refugiados huguenotes que, no fim do século XVII, colonizaram a ilha Rodrigues, após terem sido por lá abandonados.
- O nome científico, dado, em 1872, pelo ornitólogo Alfred Newton é Palaeornis exsul, sendo o epíteto exsul ("exilado") uma homenagem Leguat.
- Sinto uma especial atracção pelo desenho realizado por Jossigny em 1770…
- Ah, as belas-artes…
Os periquitos tentam olhar um para o outro. Não o conseguiram fazer. Confrontados com a situação, decidiram seguir o exemplo do antepassado. Principiaram então a tentar imitar a voz humana. No dia seguinte, discutiam já questões relacionadas com a mimesis. Esqueceram-se do lugar que ocupavam na parede. E também dos espectadores. Viviam um para o outro.
Jorge Queiroz nasceu em Lisboa, em 1966. Estudou no Centro de Arte e Comunicação Visual em Lisboa e completou o MFA na Escola de Artes Visuais em Nova York.Expôs o seu trabalho nos Estados Unidos da América e pela Europa, destacando-se as exposições individuais na Fundação Carmona e Costa, Lisboa (2012), Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto (2007); Horst-Janssen-Museum, Oldenburgo (2006) e no Künstlerhaus Bethanien, Berlin (2004), onde fez uma residência artística.
Queiroz participou na Bienal de Rennes (2016); 4ª Bienal de Berlim (2006), 26ª Bienal de São Paulo (2004) e na 50ª Bienal de Veneza (2003). Após um longo período a viver em Berlim, Queiroz atualmente vive e trabalha em Lisboa.
Venceu o prémio AICA em 2016.
Exposição
3 Fev – 3 Mar 2018
Inauguração
Sábado, 3 Fevereiro 2019, 16h
Entrada gratuita